Val escolhendo filmes pras 14 horas de vôo |
O vôo chegou com meia hora de atraso. Comi uma dosa nesse meio tempo, saboreando cada pedacinho, pois sabia que vai demorar até que eu possa sentir tal crocância de novo. Entro no avião com o pé direito propositalmente. Adormeço. Em Dubai, Val escuta um casal falando Português na fila pro vôo para São Paulo. Nos emocionamos. A moça diante da gente ri. Ela era também Brasileira. De pouquinho, vamos identificando nacionalidades e percebemos que precisamos começar a regrar o que falamos em Português pois seremos compreendidos. No avião, enquanto todos dormem ou vêem filmes para tentar fazer com que as 14 horas de vôo passem mais rápido, identificamos um grupo no fundo do avião bebendo e conversando. Claro que eram Brasileiros. Claro que nos juntamos a eles. E pela primeira vez falamos a frase que tantas vezes imaginamos, só que agora no passado: "Moramos 1 ano e meio na Índia".
Chegamos em São Paulo e fomos recebidos com um cheiro maravilhoso de café. Era o Brasil nos dando boas vindas. Identificamos sotaques. Quase enlouquecemos com a demora das malas que nos colocou num vôo três horas mais tarde. Recebemos reais como troco da compra do cartão telefônico para ligar para os pais. Gastamos quase R$ 16,00 em dois cafés e dois pães de queijo minúsculos e sentimos que estávamos de volta à terra em que tudo é caro e não somos mais ricos. Buscamos palavras que teimavam em não vir na interação com as pessoas. Era estranho e fantástico voltar a falar Português. A atendente de vôo à caminho de Fortaleza pira na minha mehendi. Cansados, dormíamos e acordávamos e Fortaleza nunca chegava. No aeroporto, identifico cabelos cacheados como os meus; eram meus pais que, como imaginei tantas vezes, nos esperavam - nem eu nem minha mãe contemos o choro e, abraçadas, sentíamos o cheiro uma da outra depois de tanto tempo.
De vermelho, no canto esquerdo, minha mãe filmando minha volta e já chorando. |
Nos dias que se passaram, fui sentindo novamente minha cidade. De volta a meu quarto, ao meus livros, às minhas roupas. Me sentir em casa...ou melhor, de volta em casa. Ver braços e pernas em mini-blusas e mini-shorts. Ouvir nossas expressões tão típicas. Não conseguir me concentrar em nada pois toda conversa me chamava a atenção por estar acostumada a não entender os idiomas a minha volta. Pedir para descer na próxima parada e lembrar que deve-se dizer "próxima desce!". Ir na padaria e achar pão, bolo, pamonha, canjica e queijo coalho (na Índia, padarias são lojas de doces). Ir à praia de biquini. Ficar com sono diante do barulho do mar. Rever amigos, relembrar abraços, descobrir lugares. Falar sobre a Índia e responder as mesmas perguntas um monte de vezes. Entender como a cidade está funcionando. Ao invés de retornar como a maioria retorna, reclamando de tudo, volto imensamente feliz com minha cidade. Sim, ela tem muito a melhorar, mas é meu porto seguro. Sairei mais vezes de seus braços quentes, mas sempre retornarei.
Primeira foto de volta em Fortaleza. |
Foi um ano e meio de descobertas, surpresas e constante questionamento. Um ano e meio de cores, aromas e idiomas. Mudei. Mudamos! Me encontrei. Percebi coisas em mim as quais me eram desconhecidas. Revi preconceitos e conceitos. Vi meu país de outra forma exatamente por estar fora dele. Levo para o Brasil a influência que a Índia teve em mim. Entre Yoga, Ayurveda, óleos e temperos, acho minha própria essência a resignifico em solo Brasileiro. Um dia voltarei, mas não agora. Agora quero mais é curtir o meu lugar, minha cidade, meu país.
No dia seguinte à volta, o café não podia ser outro! Carioquinha com queijo coalho, tapioca e pamonha:) |
Obrigada, Índia, obrigada por tudo. Até breve. Namaste!