As famosas House Boats do Estado de Kerala |
Era pra ser uma aventura de 7 meses. Enquanto escrevo esse
post, já deveria estar de volta ao Brasil. Mas a vida deu um jeitinho de me
deixar ficar mais um pouco, como se ouvisse da Índia dizendo: “Relaxa, toma um
chai e aproveita que quero que você me conheça um pouquinho mais.” E eu não
tive coragem de recusar um convite tão tentador.
Love overseas |
Nem eu e nem o Val. Agora somos uma família. Temos um
apartamento só nosso, decorado do nosso jeitinho, rodeado de coqueiros,
seringueiras, bananeiras, jaqueiras, muito verde e pássaros, muitos pássaros.
Temos filhos – Surya e Namaskara – um par de gatinhos que nos apareceu
exatamente quando mais sentíamos falta da companhia e alegria felina. Deixamos
Hyderabad, a agitação da High Tech city e voltamos para o colinho bom da natureza.
E ela nos recebeu de braços abertos. Pela primeira vez, moraremos juntos, sem
flatmates. Brincar de casinha está sendo ótimo.
Surya e Namaskara, num momento de paz |
Não há fotos da viagem pois foi traumatizante demais viajar
com dois filhotes de gatos em um ônibus interestadual. Até que enfim a
burocracia Indiana nos favoreceu e conseguimos viajar com eles, mesmo não sendo
nem de longe permitido. Pedimos extensão do visto para os 11 meses que a escola
em que trabalhamos agora pediu, mas a imigração só nos deu dois. Resultado;
daqui há dois meses, lá vamos nós para Delhi mais uma vez. Mas, não tem
aperreio, não. Se há uma coisa que aprendi por aqui é que é preciso ter calma,
ser tolerante e entender que, se fizermos tudo direitinho, mesmo com todos os
contratempos, tudo acaba dando certo. É o “jeitinho Indiano”, uma versão mais
desesperadora do “jeitinho Brasileiro”. E assim como no Brasil, ou você se
acostuma ou seguirá com uma dor de cabeça eterna.
Ah, Kerala...Antes soubesse algo sobre suas belezas antes de
botar meus pezinhos Brasileiros na Índia. Chamada de “God’s own country”, tenho
até vontade de acreditar em Deus e imaginar seus passos por essas terras tão
bonitas. Você sabe que chegou em Kerala quando começa a ver coqueiros e homens
vestindo “lunguis”, além do fato de que provavelmente estará chovendo. De clima
tropical, Kerala, no sul da Índia, foi o primeiro local a ser “descoberto” por
Vasco da Gama em 1498. Os Ingleses, que de bom mesmo pra Índia só deixaram o
Inglês, seguiram a linha ladrão que rouba de ladrão e tomaram tudo o que os
Portugueses haviam dito que eram deles por volta de 1647 e é por isso que
quando digo que somos do Brasil, existe certa sensação de que somos todos da
mesma família. E por falar em Brasil, aqui por Kerala não é Críquete (o esporte
favorito dos Indianos) que é paixão entre os meninos e sim o futebol.
Disseram-me até que durante a Copa do mundo metade de Kerala torce pela
Argentina e a outra metade pelo Brasil e não é raro ver a camisa canarinho (em
geral com o nome do Ronaldinho) pelas ruas.
O famoso Chutney de côco |
Um parágrafo para a culinária não pode faltar. Enfim saímos
da Capital Mundial da Pimenta e viemos para a terra do óleo de côco.
Praticamente todas as comidas daqui são preparadas com esse saboroso e
aromático óleo, que serve para a cozinha e também para a hidratação do corpo e
do cabelo imenso das Indianas. A banana chips frita no óleo de côco é um lanche
irresistível. O chutney de côco servido junto à Masala Dosa ou à refeição
servida na folha de bananeira é um tapa na cara da nossa culinária que só usa
côco para doce. E embora o côco seja utilizado largamente, raramente é possível
achá-lo nas vendinhas e supermercados. É que cada família possui seus próprios
coqueiros no quintal de casa. O arroz, item básico da culinária indiana (que é
também um dos principais ingredientes da Masala Dosa) é diferente do consumido
no resto da Índia. É um arroz integral, avermelhado, com gostinho de interior.
Ah, já mencionei por aqui que o arroz daqui não leva tempero algum? Loucos por
sabores fortes, o arroz dos Indianos é temperado com o Dal, molho saborossíssimo
à base de lentinhas amarelas, temperado com uma cebolinha minúscula e com Green
chilli. Enfim posso ir a qualquer restaurante e comer o que der na telha sem me
preocupar se será apimentado demais pro meu paladar. A liberdade só não é maior
pois Kerala cuja população é 90% onívora, por ser de maioria Muçulmana e
Cristã. É a primeira vez que achamos carne de vaca oferecida em um cardápio, com
exceção das cidades turísticas por onde passamos. Isso não quer dizer que a
oferta vegetariana não exista. Em qualquer restaurante, as opções vegetarianas
são lei. Ponto pra Índia mais uma vez.
Dizem por aqui que o Perinthalmanês passa metade da vida levantando a Lungui e tranformando em uma espécie de mini-saia. A outra metade da vida é baixando em saia longa. |
A cidade em que moramos é uma cidadezinha chamada
Perinthalmana em que, procurando, se acha de tudo. Os homens andam na rua e
trabalham de lungui e a quantidade de mulheres de burca por aqui é imensamente
maior que em Hyderabad. Há mais lojas de jóias do que pescoços para pendurar
tanto ouro e pedra preciosa e as lojas de produtos semi-novos oferecem itens
como um Iphone 4 por 9000 rúpias (R$ 330 reais). É que o Perinthalmanês só quer
saber de coisa nova. A população tem um poder aquisitivo bastante considerável,
uma vez que essa cidade é conhecida como “A cidade dos Hospitais” e médico aqui
ganha muito bem. A alopatia é vizinha da Ayurveda (medicina natural ancestral
dos Vedas, povo que também desenvolveu a Yoga), e não é difícil ver uma
farmácia logo ao lado de um centro de terapia ayurvédica. E como santo de casa
não faz milagre, a alopatia é preferida pela maioria da população. Já mencionei
o quão raro é um Indiano fazer Yoga?
Zen room |
Falando em Yoga, enfim temos nosso cantinho de meditação e
prática. Nosso apartamento tem dois quartos e foi unânime a decisão de transformá-lo
no cantinho Zen que precisávamos para levar essa paixão/profissão adiante. Em
Hyderabad, nos formamos professores de Yoga, mas, embora tenhamos o
conhecimento inicial para ensinarmos, a Yoga é e sempre será um assunto sobre o
qual não se sabe tudo, mesmo após anos e anos de estudo e prática. Dizem por
aqui que uma vida não basta para se saber tudo sobre Yoga e eu estico a frase
para a Índia. Quando eu achava que sabia alguma coisa daqui, vem Kerala e me
surpreende.
Vista da janela do quarto |
Muitas surpresas e descobertas nos aguardam por aqui. Ao
fim, teremos quase 2 anos de experiência de Índia e sei que ainda será pouco.
Ajeito meu sári, checo se meu bindi está no canto e sento confortavelmente na
poltrona de nossa sala. O Brasil que me
espere pois receberei daqui pra frente a Índia para jantar.
Ó lá o Brasil. |
Interessante! Vocês devem estar perto de Goa! Abraços, adorei o texto e adoraria ver um indiano com esses trajer a jogar futebol.
ResponderExcluirPaulo Valente
Olha, espero que vcs se deem mto bem nessa nova cidade, mas voltem! Saudade de vcs já :~
ResponderExcluirSim, Jamie!
ResponderExcluirLi, passeei pelo apartamento, percebi quão grandinhas estão Surya e Namaskara, saboreei o coconut chutney,fiquei pensando se o Val já está usando o Lungui, quase que me deito no tapetinho de yoga e fiquei, cada vez mais, feliz por vocês.
Que dias ensolarados e plenos de muito amor venham, bem como a realização de outros e mais projetos.
Um abraço carinhoso,
Josi
Estou amando ler estas aventuras!!!
ResponderExcluir=D