Um mistura de Natal, Ano novo e São João, mas Hindu |
Será que conseguirei entender todos os deuses e suas relações? |
A população de Ayôdhya iluminou toda a cidade com dipika (lamparinas a óleo) e fogueiras para celebrar o retorno de seu rei.
Na época devia ser um espetáculo magnífico de se ver, pois não existia luz elétrica e cada casa era iluminada por uma ou várias dessas lâmpadas; nas ruas, fileiras de fogueiras foram acesas para recepcioná-los. Esta celebração ocorre 20 dias após o dusêra, no amavashya, o 15º dia mais escuro do mês Hindu, na noite da lua nova Ashwini (áshô) (outubro / novembro)."
O que vi por aqui foi ao mesmo tempo fascinante e pertubador. Fomos convidados a passar o Diwali na casa de uma das professoras da escola. É da natureza do Indiano gostar de receber pessoas em sua casa, especialmente se forem estrangeiros. Logo na ida, a primeira surpresa: éramos 6, com a professora e seu marido, que estava dirigindo. Sem se fazer de rogada, a professora abriu o porta malas do carro e estendeu a mão. Me candidatei e junto com a polonesa Izabela, fui, pela primeira vez na vida, no porta-malas de um carro. A experiência foi apertada, mas maravilhosa. Sentir o ar no rosto, a expressão das pessoas nas ruas. Ninguém se impressionava conosco no porta-malas, elas nos cumprimentavam de suas motos e carros pelo desprendimento. Muitos estrangeiros não fariam o que fizemos, mas eu acho que é o tipo de coisa que você precisa fazer antes de morrer. E no Brasil eu jamais faria tal coisa. É bom estar por aqui pois às vezes, eu tenho a sensação que posso fazer o que quiser. Se eu fizesse algo assim em Fortaleza, a chance de alguém conhecido me ver seria de quase 40 por cento. Fortaleza, como todos sabemos, é uma cidade pequena com roupas de gente grande; todo mundo conhece alguém que conhece alguém que conhece alguém.
Ao chegar na casa, fomos recebidos pela família da professora. O Diwali é um evento familiar. Pessoas que moram longe da cidade natal viajam horas e horas para passarem um dia sequer juntos. Enquanto terminava o almoço, nossa anfitriã nos contava a história por traz do festival. Deixei a câmera gravando e resolvi me deliciar com os quitutes oferecidos antes do almoço. Os snacks daqui são maravilhosos, mas é necessário gostar de frituras. Especialmente nessa cidade, todos são loucos por frituras. É preciso se segurar e pensar no colesterol, pois é tudo uma delícia. O Indiano também adora doces e estamos impressionados quantos tipos de doces podem ser produzidos sem chocolate( O Val baba diante dos doces lindos e coloridos das padarias de higiene duvidosa). Cada festival, aniversário ou comemoração é motivo para a troca de doces. Ah, sobre aniversários, uma curiosidade: quando uma criança aniversaria na escola, a mãe manda doces (em geral pequenos pedaços de bolo ou chocolate) para que ela distribua entre os colegas mais queridos e os professores. Ao invés de receber, a criança distribui um agrado. Eles só ganham presentes dos mais próximos ou quando dão festas.
Após nos contar a história, ela nos mostrou como o arroz é temperado por aqui: em uma panela, o arroz cozinha sozinho. Quando é pronto, ele é misturado à massala, misto de pimentas cuja receita é exclusiva de cada familia. Praticamente toda a culinária indiana é produzida com as mãos. À primeira vista, pode parecer pouco higiênico, mas não precisa ser. As mãos são pré-lavadas e as unhas são curtas. Os ingredientes são misturados quando estão apenas mornos para evitar queimaduras. Quando a hora de almoçar chegou, ela limpou o chão da sala em que estavávamos e acomodou as panelas ao centro. Todos sentamos ao redor das panelas e ganhamos um prato descartável do tamanho dos que usamos para bolos. A comida é posta nos pratos com colheres, mas, cadê os talheres?
Observei atentamente o que a anfitriã fazia e fiz o mesmo. Indianos comem com a mão direita, a mão limpa (a esquerda é considerada impura pois é destinada à higiene pessoal, o que não quer dizer que eles se limpam com a mão, todos os banheiros, até os mais xexelentos, possuem uma ducha e, algumas vezes, papel higiênico). O procedimento é interessante. Sempre há arroz branco, temperado com a massala e uma porção de comidas com molhos. É necessário misturar com a mão o arroz a esses molhos e seus demais ingredientes. Daí eles fazem um bolinho (no Brasil chamariam de 'capitão', mas o bolinho é feito apenas com os dedos). Esse bolinho é levado à boca e, acreditem, não cai um grãozinho.
Observar um Indiano comendo pode parecer nojento, mas não é. É uma arte comer com as mãos. Não pretendo levar tal hábito à diante, mas, enquanto estiver aqui, comerei com a mão sempre que possível. Senti uma conexão interessante com a comida, uma sintonia. Uso meu corpo para me alimentar. Se você pensar bem, se você leva à boca, se você leva para dentro de você, qual o problema se sua mão for "suja" no processo? Tem água e tem sabão e desde que cheguei por aqui, comecei a realmente pôr em prática o lavar das mãos antes e depois de comer. Todos o fazem, até porque não dá pra ficar com a mão melecada de comida pegando nas roupas ou na casa.
O almoço estava delicioso e picante. Mesmo maneirando na massala por ter convidados estrangeiros, o almoço ainda foi apimentando (eu e Val temos uma teoria de que a massala entranha nas mãos das cozinheiras, fazem com que tudo o que elas cozinhem fique extra picante), mas é incrível como estamos nos acostumando. Certos pratos que eram impossíveis de comer são perfeitamente possíveis agora e a gente até anda sentindo falta de uma certa pimentinha quando cozinhamos em casa. Li sobre os benefícios da pimenta e são muitos. Prometo um post depois explicando melhor.
Mãe, eu tava segurando, viu? |
Após nos contar a história, ela nos mostrou como o arroz é temperado por aqui: em uma panela, o arroz cozinha sozinho. Quando é pronto, ele é misturado à massala, misto de pimentas cuja receita é exclusiva de cada familia. Praticamente toda a culinária indiana é produzida com as mãos. À primeira vista, pode parecer pouco higiênico, mas não precisa ser. As mãos são pré-lavadas e as unhas são curtas. Os ingredientes são misturados quando estão apenas mornos para evitar queimaduras. Quando a hora de almoçar chegou, ela limpou o chão da sala em que estavávamos e acomodou as panelas ao centro. Todos sentamos ao redor das panelas e ganhamos um prato descartável do tamanho dos que usamos para bolos. A comida é posta nos pratos com colheres, mas, cadê os talheres?
Observei atentamente o que a anfitriã fazia e fiz o mesmo. Indianos comem com a mão direita, a mão limpa (a esquerda é considerada impura pois é destinada à higiene pessoal, o que não quer dizer que eles se limpam com a mão, todos os banheiros, até os mais xexelentos, possuem uma ducha e, algumas vezes, papel higiênico). O procedimento é interessante. Sempre há arroz branco, temperado com a massala e uma porção de comidas com molhos. É necessário misturar com a mão o arroz a esses molhos e seus demais ingredientes. Daí eles fazem um bolinho (no Brasil chamariam de 'capitão', mas o bolinho é feito apenas com os dedos). Esse bolinho é levado à boca e, acreditem, não cai um grãozinho.
Comida deliciosa! |
Observar um Indiano comendo pode parecer nojento, mas não é. É uma arte comer com as mãos. Não pretendo levar tal hábito à diante, mas, enquanto estiver aqui, comerei com a mão sempre que possível. Senti uma conexão interessante com a comida, uma sintonia. Uso meu corpo para me alimentar. Se você pensar bem, se você leva à boca, se você leva para dentro de você, qual o problema se sua mão for "suja" no processo? Tem água e tem sabão e desde que cheguei por aqui, comecei a realmente pôr em prática o lavar das mãos antes e depois de comer. Todos o fazem, até porque não dá pra ficar com a mão melecada de comida pegando nas roupas ou na casa.
O almoço estava delicioso e picante. Mesmo maneirando na massala por ter convidados estrangeiros, o almoço ainda foi apimentando (eu e Val temos uma teoria de que a massala entranha nas mãos das cozinheiras, fazem com que tudo o que elas cozinhem fique extra picante), mas é incrível como estamos nos acostumando. Certos pratos que eram impossíveis de comer são perfeitamente possíveis agora e a gente até anda sentindo falta de uma certa pimentinha quando cozinhamos em casa. Li sobre os benefícios da pimenta e são muitos. Prometo um post depois explicando melhor.
Ao descer, não conseguia parar de me olhar no espelho. Foi quando nossa anfitriã nos chamou para uma volta. A intenção era comprar bijuterias em um mercado próximo, mas acabamos parando numa loja de sarees e eu e Catherine compramos nossos primeiros sarees. De lá, fomos a uma costureira medir e encomendar a blusa e a saia que se usa por debaixo de tanto pano. Em 10 dias, teremos nossos sarees. Espero que lembremos como vestí-lo.
Os sarees são coloridos, chamativos e cheio de brilho e são usados a qualquer hora do dia. |
A porta de uma casa decorada com velas e areia |
Há muito tempo tenta-se reduzir o show de fogos de artifício desse festival. Esses explosivos são produzidos em fábricas clandestinas por crianças, e, quando queimados, soltam substâncias nocivas à saúde. Eu nunca vi tanto fogo de artifício. O ano novo de Copacabana perde e feio. Em certos momentos, a sensação era de guerra. Para eles, o que importa é o barulho e não o brilho. Todos os vizinhos soltam fogos e bombinhas, ao mesmo tempo e as ruas são tomadas pela fumaça. O ponto alto para a família que nos recebia foi quando um super bombinha "ignorante" de apenas cinco mil tiros foi acesa. Por um minuto, quase 7 metros de bombas explodiam. A vizinhança pára para admirar o espetáculo. Pedaços de bombinhas em brasa alcançam a todos. A fascinação é generalizada. Há ainda duas caixas enormes, cheias de bombas para essa e a próxima noite de Diwali. Ao voltarmos para casa, mantemos os vidros do carro fechados (dessa vez, todos conseguimos ir dentro do carro), pois bombas e fogos de artifício são acesos nas ruas sem aviso. A sensação de guerra só passa perto de meia noite, quando os fogos param. e todos vão dormir.
Observem a fumaça dos fogos na foto |
Como disse meu anfitrião, eles se sentem "orgulhosos pois nós os levaremos em nossos corações para sempre e nunca esqueceremos do Diwali em sua casa". Ele está certo. A experiência foi inesquecível. Sentir a Índia de verdade, na casa de um indiano, dentro das tradições, aromas, gostos e cores que mantêm hábitos milenares que colonização nenhuma conseguiu apagar.
Luz para todos nós! |
Obrigada pela deliciosa viagem, Jamie!
ResponderExcluirVocê continua escrevendo lindamente.
Luz, paz, bem.
Até sempre!
Josi
Que legal saber disso tudo, Jamie! Obrigado!
ResponderExcluirQue tenso hein esse fogos de artifício e que experiência de vida! Índia é definitivamente um lugar único. ^^
Ansioso pra saber mais! =)
Oi Jamie,
ResponderExcluirFui sua aluna no Núcleo de Línguas e peço licença a você para também acompanhar sua viagem e aventuras pela Índia através de seu blog.
Você escreve e descreve lindamente e pode ter certeza, também nos passa as sensações que está sentindo.
Sempre me interessei pela cultura indiana e agora, através de sua experência estou conhecendo um pouco mais.
Obrigada por compartilhar isso.
Bjs! Muita Luz para vc! Elicélia
Elicélia, seja bem-vinda! Faça perguntas, sugira posts, sinta-se em casa! Obrigada pela visita e pelos elogios!
ResponderExcluirAbraço!
Jamie,
ResponderExcluirUm amigo postou o link do teu blog no facebook e decidi dar uma olhada, e estou viciada! Já te adicionei nos meus faves. Leitura mandatória agora! Adoro teu estilo de escrita e AMO ler blogs interessantes e bem escritos de brasileiros no exterior.
Parabéns!
Glênia
Mas acho que mesmo com 1 bilhão de palavras, não dá pra se explicar tudo o que se sente, a partir que vc coloca os pés na India :)
ResponderExcluirEspero que vc esteja gostando e que te mude como pessoa. Passei 1 mês aí só viajando, visitando os trainees da aiesec e pra mim, foi umas das coisas mais marcantes na minha vida. E foi SÓ um mês :)Mas essa é a Incredible India!