domingo, 1 de abril de 2012

Série: In India Only

Mais uma série para o blog: In India Only Há coisas que acontecem conosco por aqui que são acreditáveis. Situações que jamais aconteceriam em nossos países de origem mas que, por estarmos na Índia, acontecem diariamente. Quando as pessoas dizem que a Índia é mágica, elas não se referem apenas aos templos e tradições. Há algo de místico que nos acompanha, uma espécie de boa sorte. A história de hoje aconteceu em Fevereiro deste ano.

O resort em Hampi 



Estávamos sem dinheiro para viajar, mas queríamos muito passar uns dias com nossa flatmate favorita, Catherine. Juntamos o que tínhamos e lá fomos mais uma vez para Hampi. No segundo dia de viagem, o dono da pousada (que já havia virado amigo pois ficamos na mesma pousada na visita anterior) nos aparece com uma proposta de trabalho: sermos host de um casamento indiano em um resort. Á primeira vista o convite foi ignorado, estávamos em Hampi para nos divertir e não para trabalhar. Sabíamos como ia ser, já trabalhávamos em alguns casamentos em Hyderabad e o serviço é cansativo e estressante. Quando já havíamos desistido da proposta, o gerente do resort aparece na pousada querendo conversar conosco. A proposta era para mim e para Catherine, mas o Val poderia vir conosco. Pagavam pouco, mas ofereciam meio mundo de vantagem. Passaríamos a noite no resort e trabalharíamos às 11:30 do dia seguinte. Topamos, um carro nos pegaria às 18:30.

Quando o carro chegou ao resort, era difícil acreditar no que estávamos vivendo. Era um resort imenso repleto de atrações. Fomos recebidos com colares, pétalas de rosas, tikka no terceiro olho e suco de abacaxi. Tudo parecia tão absurdo que até evitei de tomar o suco com medo de qualquer sonífero usado para venda de órgãos! De pouquinho em pouquinhos, fomos sendo apresentados às atrações do resort. Mahendi designers, um grupo de dança típica do Radjistão (com dançarinas com roupas lindas equilibrando imensos potes na cabeça e nas mãos e até homens cuspindo fogo), um mágico que fez surgir em nossas mãos o aroma que imaginamos sem sequer nos tocar e um passeio um tanto estúpido de cavalo e de camelo. Após conhecermos o resort, fomos levados ao nosso quarto cinco estrelas que deixava o quarto da pousada na qual estávamos hospedados com ares de favela.



Devidamente arrumados, fomos jantar a típica comida do rajistão, extremamente apimentada e deliciosa. Curry após curry, cada um mais gostoso que o outro, nem queríamos a sobremesa. Mas a equipe que nos servia insistiu e comemos a melhor sobremesa de nossas vidas. Dormimos com a sensação de que já estávamos sonhando quando acordados.



No dia seguinte, após um maravilhoso café da manhã, fomos convidados a experimentar uma massagem ayurvédica. Nos perguntávamos constantemente se tudo aquilo era realmente de graça e, caso não fosse, como pagaríamos por tudo aquilo. Só a diária do hotel custava nosso salário mensal inteiro! Aproveitamos a massagem, a piscina e perto da hora de trabalharmos, duas mulheres foram enviadas pelo gerente para que nos ajudassem a amarrar nossos sáris. Devidamente "indianas", seguimos para almoçar.

A tenda reservada para o almoço era maior que a maioria dos buffets de Fortaleza. Dezenas de mesas repletas de comidas e sucos. Tudo feito na hora, as chappatis com ou sem ghee, como o convidado preferir. Sorvete caseiro servido na folha de bananeira, chutneys, dals...tudo fervendo, muitos aromas. Tivemos que comer rápido pois os convidados estavam chegando. O trabalho resumia-se a receber os convidados na entrada do casamento, eu com tikka (um pozinho vermelho riscado entre as sobrancelhas que é sinal de benção entre os Hindus) e Catherine com pétalas de rosas. Era comecinho de verão, portando, não podemos dizer que o serviço foi agradável, mas observar a diversidade dos convidados foi interessante. Os casamentos na Índia são mega-eventos e os convidados viajam do país inteiro para não perder a festa. Mulheres de sáris brilhantes, repletas de ouro, assim como os homens, geralmente em kurtas ou em ternos. Crianças com olhos imensos, nos olhando com muita curiosidade. Somos uma das atrações da festa, os estrangeiros da festa, objetos caros e raros de decoração. Não sabemos se eles gostam de estrangeiros trabalhando em festas por sermos diferentes ou por, lá no fundo, eles se vingarem dos anos de exploração dos Britânicos.

Quando voltamos para nossa pousada guiados pelo motorista do gerente, estávamos sem palavras. Fomos para Hampi quase sem dinheiro e acabamos passando um dia em um resort e ainda recebemos 1500 rúpias cada uma (devidamente gastos nas maravilhosas e confortáveis roupas turísticas indianas). O Val não recebeu nada, mas na verdade foi o que mais ganhou. Sequer trabalhou e aproveitou tudo, sendo tratado como Mister Val.


Coisas que só acontecem na Índia. Ou como eles dizem por aqui, in India only.