sábado, 12 de novembro de 2011

Sobre masturbação pública e machismo




 Noite de Sábado. Meia noite. Quatro moças e um rapaz ocidentais voltam para casa apertados em um tuk-tuk. As mulheres usam leggings por debaixo das blusas que, em seus países de origem, são vestidos e cobrem os ombros com lenços, embora não esteja frio. O motorista do tuk-tuk resolve animar os passageiros com música tecno no último volume. Um pouco bêbados e bastante animados pela salsa do clube de onde estão vindo (que fecha à meia-noite, como todas as casas noturnas por aqui), todos se divertem com o repertório antiquado, mas divertido do motorista. As ruas estão praticamente vazias, mas alguns carros e motos ainda circulam pelas ruas. O tuk tuk cheio de pessoas ocidentais e com música alta chama a atenção e logo motociclistas acompanham o tuk tuk rindo e dançando. Uma moto acompanha o grupo por mais tempo. O piloto parece ter o mesmo destino do tuk tuk lotado. O rapaz do grupo começa a prestar atenção à moto que os acompanha e percebe que o piloto pilota com apenas uma mão - com a outra, se masturba desejando as mulheres do tuk tuk. O rapaz informa às demais moças do tuk tuk o que está acontecendo e pede ao motorista que desligue a música, mas ele não o faz. As moças, indignadas, param de rir e evitam olhar para fora do tuk tuk. O clima, que era descontraído, fica pesado e todos ficam preocupados, pois o piloto continua a seguí-los e o alívio só vem quando o piloto desiste e segue outro caminho.



A cena narrada acima não é de um filme ou de ouvir dizer. Eu era uma das moças no tuk tuk, o rapaz era o Val e somente após muito refletir, resolvi dividir essa história com os leitores do Zevendim. Não dividi antes (já se passa quase três semanas do ocorrido) pois não queria que vocês tivessem uma idéia equivocada do que aconteceu, que um fato pontual acabasse estereotipando um país inteiro. Preciso explicar, antes que conclusões precipitadas sejam tiradas, que os intercâmbios para cá parem e que minha mãe me mande voltar para casa no próximo vôo.

Uma palavra descreve o motociclista que se masturba, a necessidade doentia das mulheres de se cobrirem com todo o pano possível, os assentos dos ônibus separados por gênero, o quão jovem as mulheres precisam se casar, os casamentos arranjados, a presença quase absoluta de apenas homens nas ruas: machismo. Óbvio, constante, alimentado e passado de geração para geração. Sem sequer conversar com as pessoas é possível entender a supremacia masculina. As mulheres daqui são lindas, maquiadas, repletas de jóias, sejam bijuteria ou ouro puro. Podem passar fome, podem nem sonhar com estudos, trabalho, viagem, mas não deixam faltar o óleo de amêndoas que passam no cabelo para que ele cresça e fique enorme e brilhante. É claro que falo da maioria, das pessoas nas ruas, das mulheres e de suas filhas dentro de casa e, infelizmente, das pessoas mais pobres, mas não é assim tão diferente na escola em que trabalho. Mulheres que estudaram, que trabalham, que não são inteiramente dependentes de seus futuros ou atuais maridos, demonstram e cultivam um comportamento machista e sequer percebem. Certas mulheres na escola insistem diariamente no uso do Saree, roupa tradicional sobre a qual já falei por aqui , como se minhas calças ofendessem, como se eu não fosse uma mulher completa caso não me enrole no pano muitas vezes grosso, quente e desconfortável. Para mim, o saree é lindo por ser diferente, brilhoso, roupa de festa cara e por ser a única possibilidade de mostrar um pouco de pele por aqui sem lidar com os olhares tarados dos homens nas ruas, mas está bem longe de ser tão confortável quanto um vestidinho arejado. Porém, o saree, para as gerações atuais, é veementemente recusado. Ele representa o domínio do homem sobre a mulher, é uma exigência dos pais sobre as filhas, dos maridos sobre as esposas. Depende do pai ou do marido a liberação para que a mulher use Churidars ou roupas ocidentais, pois a mulher honrada, digna e, acima de tudo, submissa às vontades da religião, dos gurus e dos homens de suas sociedade, tem como vestimenta diária o saree. É fomentado nas meninas desde pequenininhas a idéia de que precisam ser bonitas, radiantes pois somente assim serão mulheres de verdade. Não é para elas, não é para que se sintam bonitas, para que se amem - é para não ficarem para titias.


Exigência alguma é feita aos homens. Eles andam como querem, com as cores que querem, quase sempre fedendo, bebem quando querem, fumam quando querem, olham descaradamente para qualquer insinuação do corpo feminino. A curiosidade para entender como funciona a mente desses homens é tão grande que puxei conversa com um membro da AIESEC, amigo das meninas do flat que um dia veio por aqui. Ele tentou me explicar e justificar o comportamento dos homens da rua e eu segurei meu nojo em nome de uma mente aberta à opiniões diferentes de um país diferente, mas às vezes dói na alma. A justificativa dele é, se a mulher mostra, o homem tem o direito de olhar, desejar e até tocar. É dever da mulher guardar o corpo, disfarçar as curvas pois o homem é incapaz de controlar seus instintos sexuais. Essas palavras vieram da boca de uma pessoa razoável, um universitário, um intercambista que já viajou para outros países. Ele diz que, por ter conhecido outras culturas, entende que nem todos os homens do mundo pensam assim e que tal comportamento não é tão forte em outros países, mas não lhes tira a razão. Tentei, em vão, mostrar meu ponto de vista, tentei explicar que não somos animais no cio, tentei questionar o porquê das mesmas exigências não serem feitas aos homens, mas, embora ele ouvisse atentamente e buscasse, assim como eu, entender que venho de uma outra cultura, foi nos olhos dele que vi que nada do que eu dizia fazia muito sentido e, sem perceber, já tinha coberto meus ombros que no início da conversa estavam expostos.


Não há um sequer dia em que não me perguntem a razão pela qual ainda não me casei com o Val, quando será a festa, quantos filhos terei. Se elas sonhassem que já fui casada, não teria paz um sequer segundo. Atualmente, estou trabalhando no laboratório de Língua Inglesa. Assumi esse cargo pois a professora anteriormente responsável pela sala precisou demitir-se e por três dias, ela me treinou sobre o trabalho que eu precisava desenvolver. Ela disse para todos que o motivo pelo qual estava saindo da escola era por seu marido ter conseguido um emprego nos Estados Unidos e que ela precisava ir com ele. A real razão eu só descobri depois quando, angustiada, ela me confessou que, na verdade, estava saindo de um casamento arranjado de 7 anos no qual seu marido a batia, a tratava mal, e estava influenciando seriamente o comportamento de seu filho de 5 anos, que já destratava a mãe como o pai o faz. Ela somente me contou pelo que estava passando por eu vir do outro lado do mundo e depois que comentei com ela que já havia sido casada. Eu sou a primeira pessoa separada que ela conheceu na vida e foi difícil para ela entender que meu casamento não acabou por nenhum dos motivos os quais ela listou. A família dela não a entende e não aceita a separação, o marido recusa-se a dar o divórcio e apenas um de seus amigos a apoia. O processo de separação por aqui é demorado e doloroso e foi apenas voltando para a casa dos pais, contra a vontade dos mesmos, que ela conseguiu, ontem, separar-se, pelo menos fisicamente, do marido que a subjulgava.


Machismo. Essa palavra, para a grande maioria das pessoas no Brasil, parece exagero de feministas. Nós, mulheres, alcançamos muito nas últimas décadas, ocupamos cargos de chefia (temos uma mulher no comando no país), temos voz na sociedade e isso nos dá a impressão de que há igualdade de gênero, mas na verdade, se a gente pensar bem, não há. Ainda ganhamos menos, ainda somos tratadas (e muitas vezes nos tratamos) como produtos eróticos, dançamos na boquinha da garrafa e somos "boladonas". Assim como as Indianas, exageramos nos cuidados estéticos, nos desconfortáveis saltos, no gasto absurdo com cosméticos, maquiagem, silicione, academia. Não temos a exigência do casamento tão explícita, mas a exigência existe e  é com indignação que muitos reagem diante da afirmação “não quero ter filhos”. E dessa forma, assim como muita gente ainda acredita que racismo no Brasil não existe, seguimos acreditando que está tudo bem, obrigada. Diante de uma sociedade com o machismo tão descarado, reflito sobre o nosso machismo mascarado. Será que estamos realmente tão longe da Índia, tão modernos, tão "evoluídos"? Um homem se masturbando diante de mulheres que estavam apenas se divertindo, mas que para ele, estavam passando dos limites e dando “cabimento” para que suas vontades sexuais fossem expostas, é algo que certamente não veríamos no Brasil, mas vi o mesmo espanto nos olhos das estrangeiras que moram comigo quando mostrei os vídeos do É o tchan e das Tequileiras. É degradante, mas a gente, no Brasil, nem nota mais, assim como não é absurdo para ninguém por aqui uma mulher coberta com um grosso pano preto em pleno sol do meio-dia, apenas com os olhos à mostra.


quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Sobre o Diwali ou "Festival das luzes"

Um mistura de Natal, Ano novo e São João, mas Hindu
Como prometido, falarei um pouco sobre um festival que aconteceu no mês passado por aqui e o qual parece ser o mais importante do ano para os Indianos: O Diwali ou "festival das luzes". Ele é celebrado na lua nova entre Outubro e Novembro. Quase todas os festivais hindus são guiados pelos ciclos da lua, se não me engano, todos. No Norte da Índia, são cinco dias de festa, por aqui, no sul, são apenas dois dias. Embora seja um festival hindu ( e também sikhista, budista e jainista), todos comemoram o feriado por aqui de uma forma ou outra. Aliás, eis um traço muito importante da Índia - são muitas religiões e muitas sub-divisões, mas a maioria das pessoas se respeitam (claro que há sempre extremistas). Para eles, não importa para que Deus você reza, mas que você reze. Não ter uma religião por aqui não é algo errado - é algo inexistente. As pessoas ficam confusas quando alguém se diz ateu, não compreendem como alguém pode viver sem uma força superior que o guie.  

A história do Diwali é longa e ainda muito confusa para mim, são muitos deuses, muitas histórias paralelas, portanto, copio desse site:
Será que conseguirei entender todos os deuses e suas relações?
"Dasharatha, teve três esposas Kôshalayá, Kêykayí e Sumitrá e quatro filhos Ráma, Bharata, Lakshamana e Shatrughan. Ráma foi o filho da rainha Kôshalayá e Bharata foi o filho da Rainha Kêykayi. Kêykayi desejava que Bharata fosse o próximo rei, enquanto o rei Dasharatha desejava que fosse seu filho mais velho. Mas a ciumenta Kêykayi fez uso de dois desejos que o rei Dasharatha tinha lhe concedido e enviou Ráma para o exílio nas florestas, por um período de catorze anos. Durante esse tempo, Ráma lutou e venceu tênues batalhas no sul, que separa o sub-continente Indiano, (acredita-se que seja onde hoje se localiza o Srí Lanka) matando Ravana, um rei demoníaco, que tinha violentamente tomado, como esposa, Sítá. Diwali marca sua volta vitoriosa para seu reino junto com Hanuman, o Vanar (general) que o ajudara a alcançar sucesso.
         A população de Ayôdhya iluminou toda a cidade com dipika (lamparinas a óleo) e fogueiras para celebrar o retorno de seu rei.
         Na época devia ser um espetáculo magnífico de se ver, pois não existia luz elétrica e cada casa era iluminada por uma ou várias dessas lâmpadas; nas ruas, fileiras de fogueiras foram acesas para recepcioná-los. Esta celebração ocorre 20 dias após o dusêra, no amavashya, o 15º dia mais escuro do mês Hindu, na noite da lua nova Ashwini (áshô) (outubro / novembro)."

O que vi por aqui foi ao mesmo tempo fascinante e pertubador.  Fomos convidados a passar o Diwali na casa de uma das professoras da escola. É da natureza do Indiano gostar de receber pessoas em sua casa, especialmente se forem estrangeiros. Logo na ida, a primeira surpresa: éramos 6, com a professora e seu marido, que estava dirigindo. Sem se fazer de rogada, a professora abriu o porta malas do carro e estendeu a mão. Me candidatei e junto com a polonesa Izabela, fui, pela primeira vez na vida, no porta-malas de um carro. A experiência foi apertada, mas maravilhosa. Sentir o ar no rosto, a expressão das pessoas nas ruas. Ninguém se impressionava conosco no porta-malas, elas nos cumprimentavam de suas motos e carros pelo desprendimento. Muitos estrangeiros não fariam o que fizemos, mas eu acho que é o tipo de coisa que você precisa fazer antes de morrer. E no Brasil eu jamais faria tal coisa. É bom estar por aqui pois às vezes, eu tenho a sensação que posso fazer o que quiser. Se eu fizesse algo assim em Fortaleza, a chance de alguém conhecido me ver seria de quase 40 por cento. Fortaleza, como todos sabemos, é uma cidade pequena com roupas de gente grande; todo mundo conhece alguém que conhece alguém que conhece alguém.


Mãe, eu tava segurando, viu?
Ao chegar na casa, fomos recebidos pela família da professora. O Diwali é um evento familiar. Pessoas que moram longe da cidade natal viajam horas e horas para passarem um dia sequer juntos. Enquanto terminava o almoço, nossa anfitriã nos contava a história por traz do festival. Deixei a câmera gravando e resolvi me deliciar com os quitutes oferecidos antes do almoço. Os snacks daqui são maravilhosos, mas é necessário gostar de frituras. Especialmente nessa cidade, todos são loucos por frituras. É preciso se segurar e pensar no colesterol, pois é tudo uma delícia. O Indiano também adora doces e estamos impressionados quantos tipos de doces podem ser produzidos sem chocolate( O Val baba diante dos doces lindos e coloridos das padarias de higiene duvidosa). Cada festival, aniversário ou comemoração é motivo para a troca de doces. Ah, sobre aniversários, uma curiosidade: quando uma criança aniversaria na escola, a mãe manda doces (em geral pequenos pedaços de bolo ou chocolate) para que ela distribua entre os colegas mais queridos e os professores. Ao invés de receber, a criança distribui um agrado. Eles só ganham presentes dos mais próximos ou quando dão festas.


Após nos contar a história, ela nos mostrou como o arroz é temperado por aqui: em uma panela, o arroz cozinha sozinho. Quando é pronto, ele é misturado à massala, misto de pimentas cuja receita é exclusiva de cada familia. Praticamente toda a culinária indiana é produzida com as mãos. À primeira vista, pode parecer pouco higiênico, mas não precisa ser. As mãos são pré-lavadas e as unhas são curtas. Os ingredientes são misturados quando estão apenas mornos para evitar queimaduras. Quando a hora de almoçar chegou, ela limpou o chão da sala em que estavávamos e acomodou as panelas ao centro. Todos sentamos ao redor das panelas e ganhamos um prato descartável do tamanho dos que usamos para bolos. A comida é posta nos pratos com colheres, mas, cadê os talheres? 


Observei atentamente o que a anfitriã fazia e fiz o mesmo. Indianos comem com a mão direita, a mão limpa (a esquerda é considerada impura pois é destinada à higiene pessoal, o que não quer dizer que eles se limpam com a mão, todos os banheiros, até os mais xexelentos, possuem uma ducha e, algumas vezes, papel higiênico). O procedimento é interessante. Sempre há arroz branco, temperado com a massala e uma porção de comidas com molhos. É necessário misturar com a mão o arroz a esses molhos e seus demais ingredientes. Daí eles fazem um bolinho (no Brasil chamariam de 'capitão', mas o bolinho é feito apenas com os dedos). Esse bolinho é levado à boca e, acreditem, não cai um grãozinho.
Comida deliciosa!



Observar um Indiano comendo pode parecer nojento, mas não é. É uma arte comer com as mãos. Não pretendo levar tal hábito à diante, mas, enquanto estiver aqui, comerei com a mão sempre que possível. Senti uma conexão interessante com a comida, uma  sintonia. Uso meu corpo para me alimentar. Se você pensar bem, se você leva à boca, se você leva para dentro de você, qual o problema se sua mão for "suja" no processo? Tem água e tem sabão e desde que cheguei por aqui, comecei a realmente pôr em prática o lavar das mãos antes e depois de comer. Todos o fazem, até porque não dá pra ficar com a mão melecada de comida pegando nas roupas ou na casa. 


O almoço estava delicioso e picante. Mesmo maneirando na massala por ter convidados estrangeiros, o almoço ainda foi apimentando (eu e Val temos uma teoria de que a massala entranha nas mãos das cozinheiras, fazem com que tudo o que elas cozinhem fique extra picante), mas é incrível como estamos nos acostumando. Certos pratos que eram impossíveis de comer são perfeitamente possíveis agora e a gente até anda sentindo falta de uma certa pimentinha quando cozinhamos em casa. Li sobre os benefícios da pimenta e são muitos. Prometo um post depois explicando melhor.


Após comermos, descansamos e  pude enfim colocar o saree que a Izabela tinha me emprestado. Tentamos colocá-lo em casa, mas ninguém foi capaz de fazer as dobras de tecido corretamente. E foi pelas mãos das cunhadas dela que vesti um saree pela primeira vez. É uma experiência inacreditável. Como um pedaço de pano pode ser enrolado de forma tão harmônica, segura e ao mesmo tempo tão sensual? O saree esconde e mostra, brinca com as curvas da mulher e mostra um bom naco de sua barriga. É a antítese da moralização absurda das vestimentas femininas: o saree é uma roupa tradicional, é tida como sagrada, a roupa que a mulher de bem, que valoriza suas tradições, usa. Certas mulheres precisam de autorização do pai e ou do marido para usarem quaisquer outras roupas, como calças. O saree é tradicional, mas seu caimento é sensual demais para a taradice dos homens daqui. Eles respeitam o saree e é através dele que a mulher demonstra sua feminilidade e sensualidade, maquiadas de tradição.


Ao descer, não conseguia parar de me olhar no espelho. Foi quando nossa anfitriã nos chamou para uma volta. A intenção era comprar bijuterias em um mercado próximo, mas acabamos parando numa loja de sarees e eu e Catherine compramos nossos primeiros sarees. De lá, fomos a uma costureira medir e encomendar a blusa e a saia que se usa por debaixo de tanto pano. Em 10 dias, teremos nossos sarees. Espero que lembremos como vestí-lo.
Os sarees são coloridos, chamativos e cheio de brilho e são usados a qualquer hora do dia.
Quando a noite caiu, hora do grande momento da noite. Todos da casa se arrumam. A professora veste um saree especial, de seda pura, e enfeita-se de jóias e maquiagem. Perfuma-se, perfuma a casa, espalha um pó sagrado amarelo pelas portas, esfrega na beira das paredes e nos próprios pés. Acende velas pela casa inteira e pela entrada. De repente, a vizinhança enche-se de luz, de cheiro de vela e incenso. E o silêncio, que antes imperava, é substituído por irritantes rasga-latas e fogos de artifício. Como é o festival das luzes, todos iluminam a casa, a vizinhança e a vida - é a vitória da luz contra a escuridão, tanto de onde você mora, como dentro de você. É um festival de renovação e purificação. 
A porta de uma casa decorada com velas e areia




Há muito tempo tenta-se reduzir o show de fogos de artifício desse festival. Esses explosivos são produzidos em fábricas clandestinas por crianças, e, quando queimados, soltam substâncias nocivas à saúde. Eu nunca vi tanto fogo de artifício. O ano novo de Copacabana perde e feio. Em certos momentos, a sensação era de guerra. Para eles, o que importa é o barulho e não o brilho. Todos os vizinhos soltam fogos e bombinhas, ao mesmo tempo e as ruas são tomadas pela fumaça. O ponto alto para a família que nos recebia foi quando um super bombinha "ignorante" de apenas cinco mil tiros foi acesa. Por um minuto, quase 7 metros de bombas explodiam. A vizinhança pára para admirar o espetáculo. Pedaços de bombinhas em brasa alcançam a todos. A fascinação é generalizada. Há ainda duas caixas enormes, cheias de bombas para essa e a próxima noite de Diwali. Ao voltarmos para casa, mantemos os vidros do carro fechados (dessa vez, todos conseguimos ir dentro do carro), pois bombas e fogos de artifício são acesos nas ruas sem aviso. A sensação de guerra só passa perto de meia noite, quando os fogos param. e todos vão dormir.
Observem a fumaça dos fogos na foto


Como disse meu anfitrião, eles se sentem "orgulhosos pois nós os levaremos em nossos corações para sempre e nunca esqueceremos do Diwali em sua casa". Ele está certo. A experiência foi inesquecível. Sentir a Índia de verdade, na casa de um indiano, dentro das tradições, aromas, gostos e cores que mantêm hábitos milenares que colonização nenhuma conseguiu apagar.
Luz para todos nós!