sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Mango Lazy Sound Machine (Arambol, Goa, Índia)


A voz rouca, segura, constante foi ouvida de longe. Ao me aproximar, fui percebendo o sax, os trompetes e os múltiplos recursos de percursão que enfeitavam o som como faz a pimenta aos pratos indianos - às vezes quase imperceptível, mas notoriamente essencial. Cantava-se em Espanhol, Inglês, Francês, cantava-se em línguas. A banda, formada de cabeludos barbudos sem camisa e nem muita carne atrelada aos ossos era comandada pela voz rouca de saia esvoaçante, cabelo bagunçado com eventuais dreadlocks, tererês e corpo bronzeado, corpo esse que era extensão de sua voz. Ela é bailarina da areia, músculos, panos e mãos comandados pelo som inquieto dos trompetes. E por falar em inquietos, inquietos eram os corpos, bocas e mentes que participavam da viciante harmonia. Quem estava sentado, se sacodia. Quem estava em pé, se entregava ao transe.

Um intervalo e a sensação de estar em outra década. E o som, que deveria recomeçar do palco, surge da beira do mar, agora com uma tuba, um acordeon e um percursionista cujo instrumento eram duas baquetas e uma perna plástica de um manequim. A banda que antes tocava agora se junta à banda que chegou, misturando instrumentos, ritmos, e, após um tempo em roda, passando pelos ouvintes dançantes, juntam-se todos no palco e uma nova festa começa. 

A cantora exibe-se com uma bola de contato e mais tarde com malabares. A banda lhe prepara o fundo musical perfeito. Finalizam instigando todos à dança e eu me entrego de braços e quadris, guiada pelo namorado numa salsa/lambada/forró, o suor escorrendo da testa ao pescoço. 

Passam o chapéu e, extasiados, pagamos com dinheiro a música que nos levou a anos que jamais vivemos.

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