quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Sobre como descobri a Yoga e a mim mesma



Há muito mistério em torno da Yoga. Talvez por sermos ocidentais, nos é difícil entender uma filosofia que veio de tão longe, literalmente do outro lado do mundo. Vemos praticantes de Yoga se desdobrando como origamis, associamos ao Hinduísmo ( ou à idéia abstrata que temos do mesmo), achamos caro, inacessível...achamos que não somos flexíveis o suficiente para nos arriscarmos em uma aula de Yoga. E assim, mistério por cima de mistério, mito após mito, a Yoga vai se tornando algo impossível. Não que não haja Yoga no Brasil. Mesmo em Fortaleza, não são poucas as escolas e associações de Yoga, mas as academias de musculação ainda são mais lotadas do que a mais badalada das escolas. A razão é simples: a academia dá resultados imediatos, músculos saltados em meses, enquanto a Yoga ensina a arte da paciência. E por mais que seja logo a paciência que mais precisemos nas nossas tão corridas vidas, parar para cultivá-la é um sacrifício o qual nem sempre estamos dispostos a abraçar. Além disso, acredito que a aura de mistério ao redor da teoria e da prática da Yoga é talvez o que atraia boa parte de seus novos praticantes. "Comecei a fazer Yoga" é uma frase que inicia conversas, dá ao falante um tom alternativo, espiritualizado, descolado.

Comecei a praticar Yoga alguns dias após chegar à India. Logo na primeira aula, toda a idéia de Yoga que eu tinha foi ao chão. Não era algo impossível, não quebrei nenhum osso, não precisei de roupas especiais. Apenas uma informação anterior fez todo sentido: senti-me tão relaxada, tão leve, tão em paz que só uma decisão parecia certa em minha mente - a Yoga nunca mais deveria sair da minha vida. Enfim havia achado uma forma de cuidar do meu corpo e da minha mente sem querer desistir nos primeiros dez minutos. Explico. Nunca fui uma pessoa fisicamente ativa, confesso. Não pratiquei esportes da escola (além de algumas mal-sucedidas partidas de vôlei), sempre me matriculava na musculação e acabava desistindo no segundo ou terceiro mês. Sempre tentei, mas me sentia patética andando sem sair do lugar em esteiras, em bicicletas estáticas, levantando pesos em sequências, sentindo dor, suando, torcendo para que as horas naquele lugar repleto de corpos de músculos saltados passassem rápido. Na academia, a chuveirada era sempre meu momento favorito. Mas logo na minha primeira aula de Yoga, percebi que, por mais que claramente estivesse trabalhando com meu corpo, havia algo mais, algo de atraente. Por mais que uma postura exigisse bastante dos meus músculos, era minha respiração e minha concentração que determinariam meu sucesso. Exercitar a respiração foi, também, algo novo para mim. Respirar é involuntário, mas na Yoga a respiração é uma atividade voluntária e controlada e que rege a aula inteira.  Impressionou-me deitar em savasana. Após muitas posturas e exercícios, a instrutora pediu que nos deitássemos e relaxassemos, diminuindo o ritmo da respiração, evitando pensamentos, relaxando músculos, órgãos e mente. Descansar em uma academia significa sentar-se ofegante em qualquer aparelho por no máximo cinco minutos e sob o olhar suspeito do instrutor. Na minha primeira aula de Yoga com minha adorada guru Aradhna, não olhei para ninguém, não percebi roupas, não me importei com marcas, não me preocupei se alguém olhava para minha bunda, todas as preocupações que povoavam minha mente em uma academia de musculação. 

Na aula de Yoga, cada um é um universo, cada um vai até onde consegue, cada um é um ser único e o instrutor observa cada praticante, observando evoluções, evitando lesões e orientando mais com o silêncio do que com palavras. E, ao mesmo tempo, o grupo é um só. Entoamos o OM juntos, no mesmo tom em uma respiração coletiva. Respeita-se o silêncio, cultua-se o olho fechado, a boca calada, a concentração. Com o passar dos dias, percebia que às vezes era apenas na aula de Yoga que eu me calava e estava comigo mesmo. 

Após 7 meses de prática, vendo nossa empolgação e dedicação, a instrutora nos sugeriu um curso de formação de professores na mesma escola em que ela havia se formado. Foram muitos fins de semana de acordar cedo, memorizar nomes em sânscrito, escavucar memórias de aulas de biologia as quais jamais achei que ainda existissem em mim. Aos poucos, fomos entendendo o porquê de cada postura, de cada exercício de respiração e, mais que isso, entendemos que posturas e exercícios são uma parte minúscula da Yoga, uma filosofia milenar, muito mais um estilo de vida do que uma prática física. Mudamos hábitos, cortamos vícios e vimos nossa rotina sendo modificada por ensinamentos milenares. Nos formamos professores de Yoga com uma certeza: mal havíamos começado a trilhar os caminhos da Yoga e muitos livros, práticas e reflexões ainda estavam por vir. O fato de haver mais a aprender do que a ensinar motiva mais do que desestimula.

A Yoga é uma prática individual, antes de tudo. Ensiná-la é compartilhar as próprias conclusões entendendo que se está diante de um outro indivíduo, com outras necessidades e desejos e que deve achar seu próprio caminho. É conhecer-se, entender-se como parte inevitável da natureza e não como controlador e dominador dela. Talvez seja esse o maior mistério da Yoga a ser desvendado:  mistério de si mesmo.

Um comentário:

  1. Dear Jamie,

    Muito feliz por vocês! Crescimento sempre e mais!!
    Obrigada por compartilhar.

    Namastê.

    Josi

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